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09/12/2015 11h45
Cuidado ao falar ao telefone e em locais públicos, informações importantes podem chegar aos ouvidos de terceiros.

Atenção, empresário do setor de motofrete. Veja esse artigo, do palestrante Reinaldo Polito, publicado no Portal UOL e que dá importantes dicas de como evitar que um importante projeto, plano ou negociação sigilosa da sua empresa chegue aos ouvidos de terceiros:

Você, que é honesto, também precisa ter cuidado com o que fala ao telefone
Uma das obras que mais me impressionaram foi a "Orelha de Dionísio" (Orecchio di Dionigi), localizada na cidade de Siracusa, na ilha da Sicília, na Itália. É uma caverna imensa, com 23 metros de altura. O pintor Caravaggio foi quem atribuiu essa denominação por causa do seu formato semelhante a uma orelha humana. Sua acústica permite que o som seja ampliado até 16 vezes.

Diz uma das lendas que o tirano Dionísio, que governou Siracusa por volta de 400 a.C., construiu essa caverna para ouvir os planos de guerra e de fuga dos prisioneiros. Tudo o que diziam no seu interior era ampliado pela acústica, e, sem que soubessem, eram ouvidos pelo tirano. Um plano realmente engenhoso para suprir a ausência da tecnologia mais apurada.

Em todos os tempos, as pessoas cultivaram o hábito de ouvir atrás das portas e debaixo das janelas. Quantas vezes ouvimos dizer que "as paredes têm ouvidos"? Há diversas explicações para a origem dessa expressão. Uma das mais aceitas é: "As paredes têm ratos, e os ratos têm ouvidos".

Outra explicação para essa expressão fala dos dutos introduzidos estrategicamente nas paredes dos palácios venezianos para que as conversas em salas distantes pudessem ser ouvidas. Enfim, o que não faltou na história da humanidade foi artifício para ouvir conversas.

Com o desenvolvimento da tecnologia, tornou-se praticamente impossível impedir que as conversas sejam ouvidas. Às vezes por acaso, como no episódio do ex-ministro Rubens Ricúpero. Quando pensou que ninguém ouvia sua conversa com o jornalista Carlos Monforte, tudo o que disse foi captado pelo microfone e transmitido por uma antena parabólica.
Em outras circunstâncias, as gravações ocorreram de propósito, como, por exemplo, a filmagem das propinas pagas nos Correios, a gravação de um importante assessor governamental negociando sua comissão num saguão de um aeroporto e a alegada arrecadação para compra de panetones em Brasília.

Vejo o caso do ex-ministro Ricúpero como um fato infeliz. Quem acompanha sua trajetória sabe que sempre mostrou ser pessoa correta. Perdeu o posto de ministro por comentários quase ingênuos, mas que na transmissão pela parabólica pareceram graves inconfidências.

Os demais episódios foram verdadeiros presentes para a sociedade brasileira. Essas gravações desvendaram indícios de falcatruas que talvez nunca fossem descobertas. Há poucos dias acompanhamos o caso de uma gravação que poderá mudar o rumo da nossa história.

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) caiu numa armadilha e teve sua conversa gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, enquanto combinava, entre outras medidas, uma forma de facilitar a fuga do pai. Essa gravação revelou informações tão graves que custou sua liberdade e, provavelmente, comprometa sua carreira política.

Se por um lado as gravações de conversas ajudam a nos proteger de supostos crimes, como os que talvez tenham sido cometidos no âmbito da Lava Jato, por outro podem revelar informações confidenciais de gente de bem que deveriam permanecer em sigilo. Por isso, devemos tomar cuidado ao falar sobre projetos importantes, bases de negociação e segredos pessoais.

Quanto mais tratarmos desses assuntos com discrição, melhor. Nunca devemos discutir esses temas pelo telefone ou por mensagens eletrônicas. As chances de que alguém possa estar ouvindo ou lendo nossas confidências são enormes.

Planos corporativos que exigiram vultosos investimentos, consumiram meses de pesquisa e deveriam ser mantidos em segredo, podem ser revelados em uma simples conversa gravada, ou interceptados em e-mails que pareciam estar muito bem protegidos.

A atenção deve ser redobrada ao conversar nos elevadores, nos táxis, nos aeroportos. Se, em lugares reservados, o risco de ser bisbilhotado é grande, em lugares públicos, o perigo passa a ser ainda maior. Mesmo que a conversa seja pessoal e em salas isoladas, muita atenção, pois as paredes têm ouvidos.

(Artigo do palestrante Reinaldo Polito, autor de 25 livros sobre expressão verbal – texto publicado no Portal UOL)