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22/01/2019 11h35
Técnicos da Prefeitura de SP associam aumento de morte de motociclistas aos aplicativos

O número de mortos em acidentes de trânsito na cidade de São Paulo ficou estável em 2018 em relação a 2017 – foram 884 vítimas, apenas uma a menos do que no ano anterior. O resultado interrompe uma sequência de diminuição de casos do tipo na capital. A causa disso é o crescimento de 18% nas mortes de motociclistas (360, no total).

A tendência de redução, observada nos dois anos anteriores, se manteve entre ocupantes de ônibus (- 63%), ciclistas (- 40,5%) e pedestres (- 5,8%). No caso dos ocupantes de automóveis, também houve estabilidade: uma morte a mais no ano passado do que em 2017. Já o número de mortes de motociclistas foi o mais alto em três anos. Os dados são do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito de São Paulo (Infosiga), mantido pelo governo estadual.

TÉCNICOS DA COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO (CET) OUVIDOS PELO ESTADO AVALIAM DESDE MEADOS DE 2018 O PESO DO AUMENTO DO MERCADO DE APPS DE ENTREGA POR MOTOBOYS (COMO RAPPI, LOGGI, UBER EATS, IFOOD) NESSE CENÁRIO. A prática de oferecer prêmios a quem faz mais entregas – vedada pela lei federal 12.436/2011 – estimula a direção imprudente. O estudo anual da CET sobre o trânsito ainda está em andamento.

Oficialmente, a companhia diz monitorar as estatísticas e o comportamento do trânsito “para nortear a implantação de medidas de segurança viária”. Afirma ainda que, junto da Polícia Militar, “mantém a fiscalização para coibir abusos de velocidade e a imprudência de motociclistas, as maiores vítimas do trânsito na cidade”.
A prática da oferta de prêmios, por outro lado, já foi alvo de ação judicial do Ministério Público do Trabalho, que será julgada no mês que vem contra a Loggi. Também motivou a abertura de inquéritos contra as empresas Rappi, iFood e outras, em andamento.
Na ação da Loggi, os procuradores Tatiana Campelo, Tatiana Somonetti e Rodrigo Castilho apontam os estímulos para aumento de viagens e outras violações à saúde do trabalho, como falta de tempo de descanso adequado. “O resultado disso é o aumento no número de acidentes de trânsito, nas despesas com previdência social e a sonegação de impostos”, diz a ação, cujo foco é a relação trabalhista de apps e entregadores.
Os estímulos de apps para motoboys fazerem mais entregas pode ser a causa do aumento de mortes no trânsito, na avaliação de especialistas. Mas o fenômeno ainda precisa mais estudos.
Professor de Engenharia da Universidade Mackenzie Campinas, Luiz Vicente de Mello Filho afirma que boa parte dos motoboys deixa o celular para acompanhar o trajeto. “É uma distração”, diz. “E também há as metas. Para cumprir, não respeitam leis de trânsito, como limite de velocidade, sinal vermelho e conversões proibidas.” E a fiscalização de motos, por ser um modal pequeno, é falha. “Câmeras fixas dificilmente vão pegar.” Na capital, motos representam 13,5% da frota, mas receberam só 5,5% das multas em 2017, como o Estado mostrou no ano passado.
Professora de Planejamento Territorial da Universidade Federal do ABC (UFABC), Silvana Zioni também vê como possível a relação entre o aumento de viagens e de mortes. “Mas seria importante ver também se os aplicativos fizeram o número de motoboys aumentar”, ressalva. Não há dados sobre o número de motoboys que atuam em apps na cidade.

(As informações são do Jornal O Estado de SP)