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28/02/2018 10h15
Crédito para empresas já reflete cautela dos bancos

A cautela dos bancos nas concessões de crédito para empresas levou à queda de 6,6% no saldo de janeiro ao segmento e puxa recuo de 0,3% no estoque total do mercado. Retomada deve ficar só para o segundo trimestre.

O ritmo lento de melhora nos empréstimos para o setor privado acontece mesmo depois de o índice de calotes das empresas ter ficado em 3% em janeiro deste ano, volume 0,5 ponto percentual (p.p.) menor em relação ao mesmo período de 2016, segundo os últimos dados do Banco Central (BC).

A inadimplência do mercado, por sua vez, ficou em 3,4%, queda de 0,3 p.p. na mesma comparação.

Ainda segundo o BC, o saldo total de crédito do sistema financeiro caiu 0,3% em janeiro com relação ao mesmo mês de 2016 (de R$ 3,075 trilhões para R$ 3,066 trilhões), puxado pelo segmento corporativo, que foi de R$ 1,408 trilhão para R$ 1,508 trilhão.

O movimento vem mesmo com a melhora de todos os indicadores de crédito do segmento, com alta de 5,1% nas concessões (de R$ 105 bilhões parar R$ 110,4 bilhões) e das quedas de 3,6 p.p. nos juros (de 21,2% para 17,6%) e de 1,6 p.p. nos spreads (de 12,4 p.p. para 10,8 p.p.)

De acordo com o professor e coordenador da Fundação Instituto de Administração (FIA) Marcos Piellush, o fôlego para que os empresários comecem a investir deve vir neste ano, mas com uma forte ronda de cautela por parte dos credores.

“Além de as empresas só estarem se regularizando agora, o que também influencia no volume de crédito, há todo um cuidado dos bancos ao optarem por concessões certeiras, para não errarem de novo”, explica o especialista.

Já para o professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Walter Franco Lopes, o alto custo do dinheiro também influencia o andamento do mercado de crédito.

“Claro que houve melhora, mas uma taxa de 17,6% não é barata para uma economia de inflação abaixo de 4%. E em um cenário onde as empresas estão voltando a ficar de pé, um juro real significativo como este ainda pesa no orçamento do empresário”, comenta.

As expectativas, por outro lado, são otimistas ainda para este ano. De acordo com Piellush, mesmo que puxado pelas linhas de capital de giro e ante às incertezas macroeconômicas e políticas do País, as perspectivas são de que tanto a oferta, quanto a demanda no crédito corporativo comecem a mostrar resultados positivos.

“Claro que ainda depende dos prognósticos da eleição, mas ao longo deste ano já começaremos a ver uma retomada mais significativa desses empréstimos”, avalia.

“A espera é para ver como será o primeiro trimestre. Já a partir de abril e maio, com um pouco mais de definição, o empresário se tornará mais agressivo e volta com mais apetite a buscar recursos”, completa Lopes, do Ibmec.

Banco de fomento

Os especialistas ainda lembram da atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O banco de fomento teve reduções significativas de empréstimos nos últimos dois anos, tanto pela necessidade de devolução de dinheiro ao Tesouro, como pelo redirecionamento mais forte para os micro e pequenos negócios.

Segundo dados do BC, as concessões do BNDES saíram de R$ 5,892 bilhões em janeiro de 2016, para R$ 3,493 bilhões em igual mês de 2017 (-40,7%) e somaram os R$ 2,794 bilhões neste ano, queda de 20% em relação ao registrado no mesmo período do ano passado.

Para a retomada dos financiamentos corporativos, porém, o “papel do BNDES passa a ser fundamental”, diz Lopes.

“Com a retomada mais clara da economia e o maior apetite do empresário, a atuação do BNDES é essencial. Precisaremos de uma ação do governo para disponibilizar esse crédito de uma forma mais sistemática”, analisa e completa que, mesmo cauteloso, o empresário já precifica os riscos deste ano. “O impacto demora, mas com certeza o mercado responderá. É só questão de timing [momento certo]”, diz.

(DCI)